sábado, 2 de setembro de 2017

Nas aulas de BodyPump


     Academia nova. Vida nova. Agora o treino ficou para o início da manhã. Aula das 7h30. Entre as alternativas de ginástica, tem as aulas do programa BodyPump. Trata-se de um conjunto de exercícios bem localizados que trabalham muito – preciso reforçar: muito mesmo - pernas, glúteos e braços. Tem tudo o que uma aula funcional tem, mas feito com barras, anilhas e em câmera lenta.


     A ideia é deixar o praticante bem delineado. Até aí, tudo certo. Agora imagina isso aplicado à gorda. Tem muito o quê fazer para delinear. Puxa barra, levanta peso, paga apoio. Resultado?  Uma baita dor nas banhas. Aliás, descobri partes do corpo que achei que nem tinha. Descobri que gordo tem pescoço e sovaco!
     Comecemos a análise do assunto pelo pescoço. Depois de uma semana de aulas, mexendo muito pernas, braços e abdômen (olha ela! Abdômen!) o que doía em qualquer movimento era o pescoço. É uma coisa impressionante a capacidade do gordo de doer pescoço. Você faz abdominal esperando sair dali com barriga tanquinho e tudo o que consegue é dor naqueles músculos mínimos laterais entre a cabeça e os ombros. A cada olhadinha para o lado, um “ai”. É o que chamo de memória de academia. Faz meia hora de atividade, mas lembra o dia todo! Poderão dizer que o movimento do exercício está errado, que faltou respiração. Pode até ser, mas acredito que é um caso de “poder gordífico” de descobrir corpo no corpo. Quanto mais mexe no corpo, mais corpo você descobre!

     Agora é a vez do sovaco. Eu que achava que a existência dessa curva em baixo do braço era só para suar e cheirar mal. Nada! Descubro que esse espaço também dói muito. Barra para cima, barra para baixo. Inclina e puxa em séries que se repetem bem “de-va-ga-ri-nho”... Agora, coluna reta, barra na cintura. Com um golpe de pernas, levanta a barra acima da cabeça com os pulsos que giram. Novo golpe de pernas, pulsos retomam posição original inversa e sustentam a barra que volta à cintura. Assim sucessivamente por algumas séries. Tudo em slow. Agachamento com barra. Agachamento sem barra. Bracinho com peso. Bracinho sem peso. Para cima. Para baixo. Ufa! Estou cansada só de lembrar. 



Aula termina e a gente vai embora trumbicando nas próprias pernas. Tudo molinho. O medo é a lei da física, mais especificamente a primeira lei de Newton que trata da inércia e diz que a tendência dos corpos é permanecer em repouso ou movimento contínuo quando nenhuma força é exercida sobre eles. Trocando em miúdos, quero dizer: o meu medo é trumbicar tanto nas pernas e não encontrar uma parede, mureta ou alma bondosa capaz de parar a ida para os lados que a falta de força muscular impões às minhas perninhas cansadas depois do pump. Entende?


     Passei a semana com dores generalizadas em pernas, barriga, bunda, tornozelos, braços, mas o que pegou mesmo foi o pescoço e sovaco em uma combinação conjugada, já que ao virar o pescoço e tentar pegar algo, o movimento muscular exige força desse conjunto formado por cabeça e tronco superior. Ai meu sovaquinho!

     Entre idas e vindas da academia nessa semana, trumbicando nas pernas e doendo partes que eu nem sabia que tinha, a parte boa é que no trajeto de casa até o local dos treinos – coisa de duas quadras e meia, tem três lanchonetes. Aquele cheirinho de café e pastel é algo divino. 


     

     Na volta, cansada e tremilicando, é um total desafio driblar a vontade de parar e enfiar a cara, o pé, o sovaco num café preto passado na hora com um pastel frito de carne e queijo ou um sanduíche de salame colonial! Jesus, que pecado! E a publicidade da lancheria? É algo fenomenal... Numa delas tem um quadro fixado com cavalete no meio da calçada que apela e entra fundo na mente de gordo. Usa palavras como “Vários lanches a R$1,00”. Isso é o top do marketing eficiente para gordinhos. Começa que a gente enxerga primeiro a palavra LANCHE. Depois o cérebro processa na sequência, a palavra VÁRIOS  e por fim, o toque final para arrematar: R$ 1 real! Sério? Como resistir?????

P.S. Só para registrar. Eu resisti.

terça-feira, 29 de agosto de 2017

Uma gorda em nova academia

   Mudei o local do treino. Cansei de fazer musculação. Queria mais aulas de ginástica, movimento, novidade, música para impulsionar... Fiquei uns 15 dias procurando o lugar ideal. Tá. Confesso. Fiquei 15 dias enrolando e brigando com o emocional para me convencer de que academia é um mal necessário e não dá para desistir. Te digo Jesus! Esse período é muito crítico. É uma briga consigo mesmo. Fui lá, dei um tranque em mim mesma e no impulso fui me inscrever na Vivará. O nome é sugestivo: mesmo que tudo conspire ao contrário, você “vivarás” hahahah.
Olha o que um gordo sofre para entrar na academia. Parece que cada inscrição é um retomar dos mesmos conflitos.
Cheguei no dia para a inscrição – cheia de gasolina. 

   
     Vem o professor da musculação. Não dá para fazer, pois quem realiza o processo não está. Só vem de tarde. A p@%&! da gorda resolveu ir de manhã... Ok. Vai de tarde. No mesmo dia que é para não perder a vontade. O rapaz que inscreve precisou ir no médico. Ok. Deixa o telefone para marcar. O rapaz manda whats e remarcamos para o outro dia. Um sábado. Vai às 9h50 para efetuar o negócio. Cara na porta. O lugar estava fechado. Abre às 10h. Ahahaha. A gorda vai no parque, brinca, pula, corre, toma uma deliciosa água com colágeno (brinde da Floratus Farmácia de Manipulação que está em evento de saúde no Parque dos Macaquinhos). Energia renovada, movida por tanta magreza, beleza e saúde, a gorda volta na academia e.... Graças a Deus, acha o cara da inscrição! Inscreve. Paga o pacote do ano. É para não desistir.
Meta: começar na segunda. Aulas às 7h30. Beleza.

No domingo já faz aquela maionese com batata, ovo, azeite e milho (especialidade da casa) que é para aproveitar. Afinal, segunda vai queimar na academia! Mente de gordo é assim. Já tem o piloto automático da compensação. Junto, um bifinho frito (senhor que delícia. Glândulas salivares já se agitam só de pensar).


     Segunda, às 7h20 chega na academia. Pronta para o que der e vier. O rapaz que inscreve não passou a ficha para o sistema. Tem que esperar alguém vir abrir a catraca. Uns 10 minutos depois, alguém abre o acesso. Chega atrasada e descobre que o professor é o Coringa! Gente, o cara é de uma simpatia que não fecha o sorriso nunca. Algo impressionante. Faz a aula toda, sem parar. Pura ostentação muscular. Tô com medo. O cara suado, continua rindo. Aula termina. Todo o mundo destruído. O sujeito pingando, cara vermelha e rindo?! Coringa na certa. 


     Terça, 7h25. Chega na academia novamente com o dedinho pronto – na Vivará o aluno acessa o local a partir de registro digital. Não foi feito. Espera alguém notar que estou presa na entrada.


     Ufa. Entrei. Professor gato. Queridão. Aula de bodypump. Nunca tinha feito. Ahhh, antes tivesse ficado assim...
Na próxima, eu conto como foi essa aula. 

segunda-feira, 19 de junho de 2017

Um estímulo para voltar


Eu bem que estava precisando de um bom motivo para retomar minhas reflexões sobre esse universo de gordinhos e academias. O empurrãozinho veio hoje. Depois de uns 15 dias sem frequentar a academia, volto com foco. Gana. Objetivo.  Faço o treino (até um pouquinho mais do que estava na ficha só para dar um ar de vontade) e ao sair, pimba: vejo que conheço alguém que está fazendo os testes para iniciar seus treinos ali. Sem óculos, olho. Quase esbarro na pessoa. Sei que conheço, mas não consigo identificar. Coloco os óculos e vou até onde o suspeito de ser meu conhecido está, às vésperas de ele ligar a esteira. Peço licença. Digo que acho que conheço e peço seu nome. Sim, sim! Nos conhecemos. Fico muito feliz em ver mais pessoas buscando qualidade de vida, talvez, pessoas essas que por serem das minhas relações, entendam como me sinto também. Enfim, para mim, o momento é de acolhida. A instrutora que está acompanhando o primeiro dia do meu conhecido, fica meio sem entender nada. Não sabe se começa, se espera o papo acabar... Fulano, em cima da esteira me conta brevemente como foi parar ali. Diz que já perdeu uns bons quilos e que está satisfeito com seu programa na busca do peso ideal. Me pergunta se faz tempo que eu frequento o local. Digo que, apesar de não ser uma praticante exemplar, faz um certo... Ops!



É nesse momento que vem o empurrão que eu precisava. A instrutora interrompe a conversa para acrescentar que de fato eu não sou uma praticante exemplar. Falto muito. Meio sem jeito, tento explicar (não sei se para o conhecido ou se para a instrutora – talvez para ambos) que para mim é uma luta fazer academia, mudar hábitos alimentares e o que vem no pacote, mas que há dois anos eu ingressei na luta. Comecei pela academia e só no início desse ano é que estou sendo acompanhada no plano das refeições. Que estou inscrita há esse tempo todo e que por mais que falte, também volto.

Foi essa atitude de destacar o quanto eu “não sou exemplar, modelo, padrão de pessoa que vai ali na academia” que me fez voltar a escrever hoje. O rosto sério da moça. Fiquei pensando: deve ser difícil para ela também. Toda magra, toda focada em melhorar a vida das pessoas pelos exercícios e gente como eu – gorda preguiçosa que não vai para a frente, apesar de todos os esforços dos professores. 

Eu não sei o nome da instrutora em questão. Também é melhor assim, pois se soubesse, seria porque a conheço e aí ficaria muito mais difícil escrever sobre a atitude dela. Assim, penso eu, ela também falou por falar. Nem deve saber o meu nome, pois se soubesse, entenderia como me sinto em relação a academia. Saberia que vivo numa luta comigo mesmo. Talvez a pior luta que alguém possa travar na vida. Lutar por uma causa, ou contra alguém é melhor do que dar na cara da gente mesmo quase todos os dias.

Não me entendam mal. Não estou brava com a instrutora, que aliás - é ótima profissional. A questão aqui não é a habilidade dela como professora. Apenas uma atitude. Já fiz aulas com ela. Posso afirmar. Creio que ela não fez para me magoar. Talvez ela nem tenha notado que me abalou.  Ela só queria que o meu conhecido se espelhasse em modelos inspiradores.  O que lhe faltou talvez, seja experiência de vida. Isso ela vai ganhar com o tempo. A vida ensina. O fato é que se ela me conhecesse mesmo, saberia que eu não quero ser exemplo para ninguém. Muito menos tenho a pretensão de ser modelo. Ora, ora. Eu quero é viver mais. Para além de tudo o que já fiz na minha vida e ficou para trás, eu quero o que vem pela frente.  Valorizar mais a cabeça do que o corpo, me fez ver que só seremos plenos sendo as duas coisas ao mesmo tempo. É isso que busco. Viver bem, viver por mais tempo, não ter medo de ir no médico na próxima vez e ouvir que agora sim tenho uma doença ruim que poderia ter sido evitada. Quero andar leve para onde eu quiser, ver a roda girar por mais tempo. Talvez o meu conhecido entendesse o que eu sinto. Talvez ele soubesse o que procuro. Talvez ele entendesse. Por isso fui conversar. Porque quero um mundo onde as pessoas se importem umas com as outras. Comemorem as suas vitórias juntos. Quero um mundo onde possamos simplesmente ser – magros, gordos, altos, baixos, peles multicoloridas, sexo com amor independente do gênero. Quero amizade e fraternidade.

Foi isso que me motivou escrever. Quisera eu ter podido dizer para a instrutora, sem ofendê-la, que eu esperava que ela sorrisse mais para mim. Que me abraçasse cada vez que chego na academia e comemorasse comigo por ter vencido a luta naquele dia e ter ido. Ora bolas, não fui tantas vezes, mas o ontem é passado. Não move mais moinhos. Hoje eu estava lá. Quisera me sentir acolhida, isso vai determinar se irei amanhã... Bingo! É isso professores de academia.

É como amar ou não matemática e português no ensino fundamental e depois física e química no ensino médio. Se os professores são maneiros e acreditam no aluno, eles inevitavelmente vão acreditar também. Matemática vai ser legal. Português será a descoberta do universo pela linguagem. Quase uma senha para navegar na linha do tempo. Física será como se pudéssemos dominar o mundo por entendê-lo  e química, meu caro Watson, será elementar!


O meu conhecido? Bom, não sei como ele ficou nisso tudo. Não menciono o nome dele porque não tem nada a ver com a minha história diante do fato. Talvez a percepção dele seja outra. Talvez...